De acordo com
dados do Departamento de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de
Saúde de Irati, o número de casos de HIV/Aids diagnosticados em Irati vem
crescendo nos últimos cinco anos.
“De 2013 até o
presente momento, foram diagnosticados 26 casos de HIV/Aids em Irati.
Observamos um aumento significativo de diagnósticos de 2015 para 2016, e
somente nos últimos 4 meses foram diagnosticados 7 casos, sendo uma média de
1,75 casos por mês”, alerta Jéssica Cristina Mattos, coordenadora do Programa
IST/AIDS e Hepatites Virais da Secretaria Municipal de Saúde de Irati.
No levantamento
efetuado pela epidemiologia, em 2013 o município registrou cinco casos
diagnosticados, passando para seis, em 2014, caindo para um, em 2015, e
chegando a nove no ano de 2016. De janeiro a março deste ano, o número já
atingiu cinco diagnósticos.
O estudo epidemiológico que
permitiu a constatação deste crescimento foi
realizado pela enfermeira Jéssica Mattos, que é pós-graduada em Saúde da
Família pela PUCPR, em conjunto com Gustavo Zambenedetti, professor adjunto do
Departamento de Psicologia e do Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento
Comunitário (PPGDC) da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), e
Mestre e Doutor em Psicologia Social e Institucional pela Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Irati segue
cenário nacional
“O Diagnóstico
está sendo realizado em todas as faixas etárias, porém, semelhante ao cenário
nacional da Aids, nota-se em Irati um aumento de casos entre jovens de ambos os
sexos. A falta de percepção sobre o risco de contrair o vírus em uma relação
sexual desprotegida, associada ao fato de se ouvir e ver menos sobre a Aids
atualmente, gera um desinteresse pelo assunto, em comparação ao que acontecia
nos anos 80 e 90, quando pessoas famosas se declararam doentes, causando grande
impacto na sociedade e até mesmo um certo pânico”, diz o relatório.
“O fato é que as
pessoas sabem que a única forma de proteção é o uso de preservativos, porém não
conseguem se perceber em risco diante de uma relação sexual desprotegida com
seus parceiros sexuais. Entre os jovens isso se torna mais evidente, pois eles
não acompanharam de perto a doença quando ela começou na década de 80, e acaba
sendo percebida como ‘doença do outro’, ou seja, como algo distante”, diz Gustavo.
Prevenção é o
básico
A camisinha
continua sendo a principal forma de prevenção da doença. O seu uso em todas as
relações sexuais, sejam elas com parceiros fixos ou eventuais, é indispensável.
Em Irati, há a
distribuição de preservativos gratuitamente em unidades básicas de saúde e em
pontos estratégicos da secretaria municipal de saúde. Não há a necessidade de
solicitar aos profissionais a retirada do preservativo, pois eles se encontram
disponíveis em halls de entrada, recepção, sala de espera e outros ambientes.
“Outro aspecto
importante é desmistificar as chamadas ‘estratégias imaginárias de prevenção’.
Ou seja, são crenças que algumas pessoas têm e que, supostamente, as afastariam
do risco de infecção pelo HIV, mas, na verdade, acabam tornando as pessoas
vulneráveis ao HIV”, alerta a enfermeira. Gustavo cita como exemplo “a crença de que é
só escolher bem o parceiro ou confiar no parceiro”.
A Aids acaba sendo
percebida pelas pessoas como algo distante, como uma “doença do outro”. Pelo
fato de ser uma doença ainda permeada por preconceitos, a tendência é de que as
pessoas que vivem com o vírus não revelem essa informação, ainda mais em
municípios de pequeno porte, como Irati, onde também não há movimento social
organizado de pessoas com HIV. Desse modo, a sociedade não toma conhecimento de
que pessoas com HIV convivem em seu cotidiano, assim como pessoas com câncer,
hipertensão ou qualquer outra doença. A maioria das pessoas vivencia o
diagnóstico como algo íntimo, de foro privado, causando certa invisibilidade
deste tema. Acabamos não percebendo a proximidade
do HIV, que pode estar em um familiar, amigo, colega de trabalho, da escola ou
da Universidade, num ‘ficante’ ou namorado/a. Também devemos considerar que
muitas pessoas têm HIV, mas não sabem, pois nunca fizeram o teste ou não
repetiram o teste após a exposição a relações sexuais sem preservativo ou
outras formas de infecção.
Exame é rápido e
simples
Desde 2013 está
disponível gratuitamente para a população iratiense acima de 14 anos, o teste
rápido diagnóstico para o HIV. É um exame simples, com algumas gotinhas de
sangue retiradas da ponta do dedo. Em 15 minutos é possível saber se a pessoa
tem ou não o vírus.
Hoje o teste
rápido pode ser encontrado nas Unidades de Saúde da Vila São João, Riozinho,
Engenheiro Gutierrez, Lagoa, Rio Bonito, Ademar Vieira de Araújo, Ambulatório
da Secretaria Municipal de Saúde e no Centro de Testagem e Aconselhamento, que
fica próximo à Farmácia Municipal. O resultado do diagnóstico é sigiloso, sendo
entregue apenas para a pessoa que realizou o teste.
Tratamento é
gratuito na rede pública
A Aids não tem
cura, mas tem tratamento, podendo propiciar uma boa qualidade de vida para a
pessoa que vive com HIV. O tratamento é ofertado gratuitamente na rede pública
de saúde.
Entretanto, além
do preconceito que ainda existe, fazer o tratamento implica adequar-se a uma
rotina de consultas, exames e possibilidade de uso contínuo de medicações – os
chamados antirretrovirais - os quais podem ter efeitos colaterais. Por isso é
importante enfatizar que há tratamento, mas ainda é melhor e mais fácil viver
sem HIV.