Comitiva de Irati participou de
audiência pública na Câmara dos Deputados com Ministério da Agricultura e
Receita Federal. Alternativa deve ser a formação de uma cooperativa
Na manhã desta quinta-feira (07), produtores de vinho colonial da
comunidade do Pinho de Baixo, de Irati, participaram de uma Audiência Pública
na Câmara dos Deputados, em Brasília, sobre a continuidade da produção da
bebida. O prefeito Jorge Derbli e o deputado federal, Evandro Roman, autor do
requerimento, acompanharam a reunião junto com representantes do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e Receita Federal.
No meio deste ano, produtores de vinho do Pinho sofram surpreendidos pela
fiscalização e tiveram que jogar cerca de 5 mil litros da bebida por estar
imprópria para consumo, de acordo com a inspeção. Por este motivo, foi gerada
uma grande mobilização para que a produção artesanal não seja extinguida, por
fazer parte da cultura da região, vinda dos imigrantes italianos.
Em uma visita recente em Irati, no mês de novembro, o deputado Evandro
Roman convidou representantes do vinho para uma audiência em Brasília. Luiz
Alcione Cosmos, Antoninho Zanlorensi e Miguel Rossa foram ouvidos pela Comissão
de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural. A audiência
iniciou com a exibição de um documentário (disponível na página do facebook da
Prefeitura de Irati) que tinha o objetivo de mostrar, para todo o Brasil, a
realidade da produção do vinho artesanal no Pinho de Baixo e de como a
continuidade é importante para a preservação da cultura italiana.
“Hoje, eles foram ouvidos aqui porque foi uma forma que encontramos de
externarem a sua situação. De qualquer jeito, temos que nos alinhar à legislação
com o bom senso para a permanência do vinho colonial. Estamos caminhando, cada
vez mais, para o mercado orgânico e temos que encontrar um equilíbrio porque o
vinho faz parte da tradição destes descendentes”, disse Evandro na abertura da
sessão.
Com a palavra, Cosmos relatou que a situação é insatisfatória para a
comunidade do Pinho de Baixo. “Nossos avós lutaram para preservar esta cultura.
E, para nos adequarmos às normas exigidas, teremos altos gastos e tem famílias
que sobrevivem disso. Neste momento, não há outra alternativa, a não ser,
parar”, desabafou. Ele ainda completou que, a maioria dos jovens da localidade
está saindo de lá, porém, ninguém quer deixar uma cultura de cerca de 100 anos
morrer.
Miguel Rossa, na oportunidade, comentou sobre o início da história da
colonização italiana no Pinho. “Nós trabalhamos com mais atividades, como
cebola, soja, milho e batata, e a parreira também faz parte da nossa
agricultura, pois tudo isso ajuda a nos mantermos no campo ainda. Por isso, me
doeu na alma jogar o vinho”, lamentou, observando que, antes, todas as famílias
tinham a sua produção de uva, e que, hoje, somente cinco produtores estão
mantendo na sua comunidade. “Fora jogar o vinho, ainda tive que pagar uma
multa”, ressaltou Zanlorensi. Ele explanou que, em janeiro, é o período e
colheita do fruto para se fazer o vinho e que os produtores não sabem o que
fazer.
Derbli defende a essência da produção
em pequena escala
O prefeito Jorge Derbli também foi ouvido na audiência e destacou que os
produtores não querem ir contra a legislação. “Nós não concordamos com muitas
coisas destas normas para o vinho colonial, mas lutamos para a continuidade da
tradição da produção em pequena escala. Ninguém quer competir com a grande
indústria”. Jorge esclareceu que o vinho também movimenta o turismo da cidade
porque muitos visitantes se deslocam até o Pinho de Baixo por causa da
qualidade da bebida. “O que nós estamos pedindo é que se tenha um olhar mais
carinhoso. O vinho não faz parte só da cultura italiana: faz parte da história
de Irati, que completou 110 anos em 2017”.
RF diz que produção do vinho se
caracteriza como produto industrializado
Depois da manifestação dos produtores de vinho artesanal, Fernando
Mombeli, que é coordenador de Tributação da Receita Federal, comentou que a
discussão se desenvolve em dois aspectos: incidência de Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) e as condições sanitárias, que competem ao Mapa. “Neste
âmbito da tributação, não há questão de interdição, a não ser que o produto seja
destilado, por exemplo. Mas, se encaixa em IPI, em virtude do seu processo de
produção”.
Ao fim, Mombeli fez três observações: “1: temos que ter o cálculo de
impacto dessa denúncia; 2: verificação dos termos de adequação à lei de
responsabilidade fiscal; 3: convencimento dos legisladores por meio do
Congresso Nacional e, depois, do Executivo, para a justeza dessa medida”. Ele
concluiu comentando que existe a possibilidade, a partir de janeiro de 2018, da
formação para o produtor do Simples Nacional, em que a tributação mitigada
ocorre em 0,5% do faturamento.
Mapa afirma que cultura deve ser
levada em consideração na tomada de decisões
Representando o Ministério da Agricultura, Helinton José Rocha, deu
destaque para a tradição cultural. “Acho que tudo tem que ser levado em
consideração. Vocês estão na casa correta para resolver isso pela liberdade
democrática. Sabemos que a solução não vem a curto prazo, mas precisamos
construir juntos. O Mapa não pode deixar de aplicar sua legislação, mas
argumentos não faltam para pedir um termo de ajuste de conduta”.
Pré-proposta para possível
cooperativa
Encerrando a audiência, o deputado Roman disse estar otimista na
possibilidade de se encontrar uma solução definitiva com prosperidade de
desenvolvimento para a produção do vinho artesanal. “Estarei procurando o
secretário de Mobilidade Social, do Produtor Rural e do Cooperativismo, José
Dória, e José Roberto Ricken, do Sindicato e Organização das Cooperativas do
Estado do Paraná (Ocepar) para montarmos uma pré-proposta, construindo com os
produtores uma pequena cooperativa. Ficou claro que teremos que nos organizar
e, até lá, buscarmos um termo de ajuste de conduta para termos este prazo”,
concluiu.
Presenças
Ainda acompanharam a audiência, Gilberto Laroca, produtor do Pinho de
Baixo, deputado Alceu Moreira, do Rio Grade do Sul, e o deputado estadual do
Paraná, Elio Rusch.